quarta-feira, 23 de maio de 2012


“Hoje pela manhã, parei pra analisar a vida. Desde criança,vi meus pais brigando na cozinha,no quarto e na sala de estar,diziam que aquilo era normal, coisa de casal apaixonado. Foi então que eles se separaram e eu vivia presenciando as crises de choro que minha mãe deixava escapar enquanto tentava inutilmente se esconder pela casa. Meu pai nunca me ligou,eu nunca ouvi a voz daquele homem,acho que ele nunca se importou,nunca quis consertar a ruína que nossa família havia se tornado. Por muitos anos,não tive amigos,não soube em quem confiar. Eu era só mais uma criança estranha em um colégio onde todos se davam a mão e tomavam o lanche de logo cedo cantando músicas que eu nunca decorei a letra. E as coisas demoraram a mudar,acho que até pioraram. Me perdi sem querer por ai, deixei a vida me levar sem destino pelos caminhos errados,caminhei de olhos fechados até a beira do precipício e parei. Não, não tinha ninguém pra me segurar lá em baixo, ninguém para me guiar de volta para casa. Demorei a me reerguer, muitos anos se passaram e a unica coisa que eu fazia era sentar de frente à janela do meu quarto e no silêncio da manhã observar a paisagem sempre poluída e sem graça. Confesso que me culpei e apontei erros em mim que nunca existiram. Sempre me senti culpada pelo rumo que as coisas haviam tomado. Já tinha por volta de onze anos e nada,nenhum amigo,nenhuma palavra de conforto. Era só eu e a minha expectativa de que o dia passasse logo para que o amanhã pudesse ser mais rápido ainda. E nunca acreditei em amor, eternidade e aquelas idiotices que os atores insistiam em interpretar sorrindo nas comédias românticas. É,o tempo passou,hoje não me vejo muito diferente de antigamente. Sou a mesma criança, mas aprendi muito sobre a vida e acho que continuo desacreditando em amor. Não sou forte,não me relaciono bem com as pessoas. Eu confio em pouca gente e não gosto de quase nada. Não espero muito do futuro, sofri muito por ai, perdi alguns sonhos e nunca me importei em recuperá-los. Tudo que eu sei,é que eu tenho muito a dizer,mas me calo,tenho uma preguiça absurda de me explicar,de repetir minha história para pessoas que nunca entenderiam.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário